IMIGRANTES LIBANESES
Começou na Globo, a novela "Órfãos da Terra" contando a história de imigrantes libaneses que como os meus ancestrais atravessaram o oceano, para darem uma nova vida para os seus descendentes.
Como as lembranças da infância insistem em voltar o melhor é escrever e registrar...rs
Sobre imigrantes libaneses escrevi a crônica: "HISTÓRIA DE FIBRA E CORAGEM" contando a vinda para o Brasil dos meus bisavós maternos, Amim e Yasmin.
Hoje quero falar sobre o meu avô e padrinho, Esper, pai da minha mãe que veio tb "fazer" à AMÉRICA, assim eles denominavam essa viagem, entravam em um navio com destino "às Américas" e aportavam em países pertencentes à elas...
Meu avô, Esper, 18 anos, era estudante e cantor, tinha uma voz muito linda, cantava com sentimento, natural de Beirute - Líbano, pertencente a uma família de estudiosos, professores, escritores.
Na sua carteira modelo 19 -(passaporte), nacionalidade Síria, profissão artista, por ser cantor.
Jovem em época de se alistar, saiu fugido do Líbano, para não servir ao Exército Otamano, veio com seu primo, Antonio, na primeira grande leva de imigrantes no Brasil - Junho/1913 - Depois de 60 dias de viagem aportaram em Santos - foram para São Paulo na Rua 25 de Março reduto dos seus patrícios libaneses. Não falava nenhuma palavra em português, os primeiros dias nesta terra estranha, passou fome com dinheiro no bolso. Aprendeu a falar:
- Obrigado!
Quando lhes ofereciam alguma coisa ele, mesmo com fome, agradecia... Coitado!
Na rua 25 de Março trabalhou no transporte, ainda em tração animal (puxados por burros), carregando aqueles fardos de tecidos pesados (60 kilos) nas costas. Os primeiros anos a adaptação foi difícil, mas o trabalho nunca o assustou e na colônia libanesa tudo ficava mais fácil...
O seu sonho era guardar dinheiro, para trazer os seus pais e irmãos para o Brasil, para isso, ele guardava todas as suas economias...
Um sonho que não foi realizado, anos depois, recebeu a notícia que toda sua família havia morrido em bombardeios na guerra.
Desesperado ele batia a cabeça nos postes de ferro que haviam nas ruas da cidade. Esse desespero lhe causou anos mais tarde a perda da memória (amnésia). Meu avô virou uma criança e brincava comigo. dos netos, fui a única que ele conheceu mesmo com amnésia ele sabia que eu era a sua neta Sandra.. rs
Ele comprou o transporte atacadista em que trabalhava como carregador qdo chegou. Foi o primeiro proprietário de caminhões atacadista (anos40) do comércio árabe na região.
Apesar de virem para o Brasil na mesma época, meus avós se conheceram anos depois em São Paulo os dois primos; Esper e Antonio, se casaram com duas irmãs; Asma e Adélia, filhas do patrício árabe, Amin, estabelecido na Rua 25 de Março.
Meus avós tiveram 8 filhos, muitos netos dos quais, sou a mais velha...rs
Ele viveu 43 anos nesta terra sem falar nenhuma palavra em português...
Amava o Brasil lugar onde constituiu sua família e se estabeleceu fincando as suas raízes...
Sempre carregava consigo um lenço para amarrar o "massari" (dinheiro) e a chave da sua casa antiga no bairro da Penha... Possuíam vários imóveis no mesmo bairro para renda da família...
Na novela mencionam a chave que os imigrantes carregam no bolso com o propósito de voltarem a sua terra...
Os meus avós nunca pretenderam voltar ao Líbano nem mesmo a passeio...