INFÂNCIA- VI - RUA VINTE E CINCO DE MARÇO
Passando pela Rua Vinte e Cinco de Março em São Paulo, o meu cérebro rebobinou um passado distante, que em poucos segundos, décadas foram relembradas... Anos cincoenta, compras e passeios no centro comercial, mais libanês dessa Metrópole Paulistana... Morei uma época em criança, próximo a esse comércio libanês, e com os meus avós saía as compras....A sensação era de estar em outro lugar, uma Torre de Babel, aquele falatório de todos em outro idioma o "árabe", as músicas tocando bem altas serviam de introdução aos gritos dos mascates vendendo os seus produtos... Os aromas dos kibes e esfihas quentinhos vendidas nas esquinas, refrigerantes guaranas, sodas, cerejinhas bem geladas completavam os nossos saborosos lanches. Hoje, para mim, passear nesse reduto dos meus ancestrais é algo que dispenso, não gosto e não me sinto bem em lugares cheios de gente, lufa, lufa muito agitado de pessoas se empurrando, os assaltos constantes pelas ladeiras... Mas, ontem foi um dia atípico, o meu neto Ruy casa-se em Abril e está distribuindo os convites do seu casamento. O meu filho Robson resolveu receber os irmãos e os sobrinhos na sua casa com um jantar típico árabe...Delícia! Esse meu filho cozinha muito bem, gosta de receber às famílias tanto a nossa família, quanto a da sua esposa somos de ascendências árabes e na sua casa os quitudes nessas ocasiões são arabescos ou Churrascos...rs Combinamos que ele viria me buscar mais cedo para juntos providenciarmos os quitudes... O kibe passamos na máquina de moer carne, como os antigos faziam, eu tenho a máquina elétrica...rss O que não fazemos são as esfihas, eu não mexo com massas e nem ele, mas os antepastos de grão de bico (humus) e berinjelas (babaganuche) com thaine, salada de tabule, charutos, isto tudo fazemos...rs A programação dele era ir cedo buscar as esfihas na 25 de março, depois me pegar. Mas, ele trabalhou cedo e não deu para adiantar o seu expediente. Quando estávamos saindo da minha casa veio o convite:
- Mãe vamos até à 25 de Março buscar às esfihas? Mais que depressa respondi: - Vamos! Pelos meus cálculos haviam mais de vinte anos que não ia a esse comércio libanês. Não pensei na "muvuca" nas ruas e nas lojas, nem no calor de 35 graus que estava fazendo, muito menos, na minha falta de mobilidade devido ao joelho doente. Aceitei e pronto! Aquela atmosfera de odores e sabores do oriente foram tomando forma dentro de mim, em um passe de mágica senti- me uma menina outra vez, de mãos dadas com meus avós adentrando ao Empório Árabe para fazer as compras semanais.... Nesta tarde, adentrando ao Empório Árabe à música de fundo, o cheiro da zatah, das frutas secas, dos doces árabes cheios de mel aguçaram mais as minhas lembranças nessa emoção, a minha garganta travou e com um pacote de pão árabe nas mãos, a saudade do meu avô Esper, pai da minha mãe, afloraram as minhas lágrimas que desceram pelo meu rosto e o meu coração disparou.... Vendo a minha emoção, meu filho me abraçou e a vendedora me ofereceu uma cadeira para me sentar... Não me assentei! Continuei olhando e separando os produtos para levarmos... A saudade quando bate não escolhe dia e nem local... Ela vem e nos deixam tão sensibilizados, emocionados com quase nada, que apenas pegar um pacote de pão tem um significado enorme de saudade... SanCardoso
Enviado por SanCardoso em 19/02/2017
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