RABISCOS POÉTICOS

AMAR É FÁCIL PARA QUEM TEM MEMÓRIA PORÉM, ESQUECER É DIFÍCIL PARA QUEM TEM CORAÇÃO.

Textos



INFÂNCIA III - PERU DE NATAL




Naquele ano a mamãe mudou a sua programação natalina, devido à contratação de uma excelente cozinheira de forno e fogão, que veio exclusivamente de Salvador-BA, para trabalhar em casa.- Maria, irmã de Bernadete, a babá, do meu irmão...

Voltando de férias, a Bernadete, comentou com os meus pais sobre a dificuldade pela falta de trabalho e um bom salário, que passavam a sua irmã Maria e o marido José. Manifestando a vontade deles em tentar a vida em outro local - Naquela época, anos 50, o salário mínimo no nordeste, era  um valor  equivalente a metade, de um salário, pago nas grandes capitais como: Rio de Janeiro (capital federal)  e São Paulo. - A variação salarial era em todo território nacional, em cada estado se pagava, um percentual sobre o salário base da capital federal.

Meus pais se interessaram pelo problema familiar dela, e como em casa havia mesmo  alojamento suficiente, para receber toda família, os chamou, para tentarem uma nova vida. Assim resolveram o problema da família, deixando a Bernadete  tranqüila,  para os seus afazeres.

A preocupação deles sempre foi pelo nosso bem estar  e de quem estivesse cuidando de nós...

Na Praça Fernando Costa, no centro da cidade, haviam lojas que vendiam animais vivos. - A minha mãe trabalha na Praça Clovis Bevilaqua, o meu pai na Rua Álvares Penteado, ambos, trabalhavam no centro, próximo a esse comercio.

No mês de Agosto, mudando os seus planos, a minha mãe comprou um peru vivo, para engordá-lo para o NATAL. À noite eles chegaram em um carro de aluguel, traziam consigo uma linda  e imponente ave.  -Eu e meu irmão, fizemos à maior festa. Nunca tivemos um bichinho de estimação, aquele peru que ganhou o nome de GLU GLU, passou a ser esse nosso bichinho.-Assumimos cuidar direitinho dele,  trocávamos a água e o milho,sem limpar o galinheiro...rs

As manhãs se tornaram alegres com a nova atividade,  as tardes na volta do colégio era a mesma coisa, verificar a água e a sua comida.  A noite se deixava a luz acesa, para ele não ter pesadelos...rs

Os meses se passaram e naquela véspera do Natal, estavam todos em casa, solto o peru corria pelo quintal, o José marido, da Maria, estava a brincar com ele. (engano meu, ele estava a embebedar o pobre) rss

Meu pai, eu e meu irmão saímos para visitar a minha avó Sinhá e a tia Marília, a mãe e irmã do meu pai, passar o dia com elas, era tradição nesta data. – na volta, passamos na Galeria Prestes Maia, para visitar o Presépio de Natal, o único brinquedo móvel da época, os personagem se mexiam, o monjolo a derramar a água, a pisar o pilão, e a cativar a imaginação das crianças.  Era uma maravilha!

Entretidos com tanto encantamento, chegamos atrasados em casa, para o banho e trocar de roupas para ceia. Ninguém se lembrou de olhar o peru no galinheiro ...rss

Todos reunidos a mesa, vem a Maria, da cozinha, com aquele belo assado todo decorado nas mãos e o coloca no centro da mesa. Todos admiravam e comentavam sobre o sabor que teria aquele belo e suculento prato ...

Olhei assustada, mas permaneci contida! Pedi licença ao papai para sair da mesa, peguei meu irmão pelas mãos e corremos para o quintal. – o galinheiro que ficava embaixo de uma escada, estava todo escuro e vazio... – entramos em casa chorando, voltamos a nos sentar à mesa, e continuamos a chorar apontando, para o prato principal dizendo:

- Não comam esse peru é o nosso GLU GLU...

Seja pelo nosso escândalo ou por arrependimento, o peru continuou intacto sobre a mesa. Minha mãe nunca mais antecipou a comprar do peru, e nós, até hoje, em toda CEIA DE NATAL nos lembramos daquela triste noite...







                       



     
(Foto da época: Rua Backer - bairro Cambuci/SP - Papai, mamãe, Douglas e EU)
SanCardoso
Enviado por SanCardoso em 23/11/2012
Alterado em 05/12/2017
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